Ana Borella

Desde 1996 sou professora de yoga, mas me surpreendendo, diariamente, com o que o esta prática pode oferecer. Talvez na tentativa de seduzir o público, com as posições que parecem malabarismos e com os grandes benefícios da meditação, o furor da moda dessa filosofia milenar omite, muitas vezes, uma parte fundamental para que o bem-estar do praticante seja completo, equilibrado e duradouro: a ética do yoga!

A evolução do ser humano, pretendida pelo yoga, passa pela ética, pela disciplina, pelo controle, pela compaixão e pela consciência. Sem isso, somos apenas atletas, e esse não é o objetivo.

A ética yogi é universal e foi dividida em duas partes por Patañjali, escritor do Yoga Sútra, sendo elas Yama (controle) e Niyama (observância). Cada uma dessas partes é subdividida em cinco conceitos éticos, que servem para nortear as nossas decisões diárias, facilitar a nossa convivência em sociedade e nos levar aos caminhos da evolução e do autoconhecimento.

Nesse texto vou expor esses princípios e explicá-los, sempre buscando apoio nos mestres que deixaram informações de suas próprias experiências. Viver de forma ética pode parecer complicado a princípio, mas por princípio é a melhor maneira de viver, e a única que garante estarmos sempre em equilíbrio com nossos seres irmãos e também com a natureza.

Para começarmos, o Ahimsá (subdivisão do Yama que significa a não-violência) é um excelente exemplo. Quantas vezes esperamos que as pessoas tenham compaixão quando erramos? Mas quantas foram às vezes em que VOCÊ demonstrou compaixão com os erros alheios? É verdadeira a premissa de que se fizéssemos aos outros o que gostaríamos que fizessem com a gente, a vida seria mais simples.

Imagine um mundo onde Ahimsá fosse o primeiro princípio ético, onde a violência fosse reconhecida mas transformada em compaixão, assim como Budha transformou as setas dos demônios em flores que caíram aos seus pés, em uma alegoria de que violência só gera violência, e afirma que se você retribuir com amor e compaixão, ela cessa por falta de estímulo.

Seria muito bom se fosse suficiente apenas beijar a face de quem nos ofende e isso acabasse com a violência, mas sabemos que o ser humano sabe ser muito criativo na hora de expressar a sua agressividade.

Para sermos pacíficos precisamos pensar em saídas alternativas, e isso exige muito de nossa capacidade em criar novas situações e enfrentar os desafios com serenidade. Mas como em tudo na vida, comece pela base, sendo gentil com seus amigos e familiares e vá estendendo essa atitude ao seu redor. Isso se reverterá em benefícios a você e toda a humanidade.
A ética do yoga tem dez conceitos.

Os Yamas são:

Ahimsá – a compaixão ou não-violência:

Satya – a verdade, ou veracidade:

Asteya – não-roubo:

Brahmácharya – a castidade e Aparigraha – não possessividade.

Os Niyamas são:

Sauchan – a pureza:

Santosha – o contentamento:

Tapas – a ascese ou esforço sobre si mesmo:

Swádhyáya – o estudo, inclusive o auto-estudo e Íshwara Pranidhána – devoção ao Senhor, entendida também como uma prática de auto-entrega.

Já conversamos sobre Ahimsá (a não-violência) e, seguindo a ordem estabelecida pela tradição, vem depois o princípio de Satya: a veracidade.

Falar a verdade não é uma das virtudes mais cultivadas em nossa sociedade, apesar de ninguém gostar de ouvir uma mentira, todos nós aceitamos as chamadas mentiras brancas ou sociais. Dentro do conceito do yoga não basta apenas não mentir, quando omitimos a verdade estamos também ferindo o princípio da veracidade, estamos desperdiçando a força da palavra.

Mais uma vez, precisamos exercitar a nossa imaginação e buscar contar a verdade de forma a não ferir o princípio inicial, de não-violência, devendo falar a verdade com delicadeza. Com o tempo as pessoas se acostumam e passam a ver em você alguém confiável. Uma verdade pode até machucar, mas não deixa cicatrizes, a mentira quando descoberta fere muito mais e deixa marcas profundas. Mentir para proteger alguém é um erro, que acabamos pagando no longo prazo, exercite sua coragem e passe a falar a verdade, viva a verdade, encare esse como o maior desafio de sua vida, viver plenamente, sem dissimular, sem esconder, sem ferir desnecessariamente.

O princípio seguinte, Asteya (não-roubar) nos ensina que além da apropriação indevida de bens alheios, devemos evitar também roubar a auto-estima, a dignidade e a honra do outro. Não é apenas não roubar objetos, não devemos roubar idéias, nem conceitos, temos que aprender a respeitar o outro.

Com carinho e cuidado, a vida ética vai se inserindo em nossos corações e se torna parte do nosso ser. Aceite isso como um desafio no seu caminho da evolução.

Nosso passeio pelas premissas éticas do Yoga, nos levam agora a discutir o Brahmacharya, que é o quarto preceito. De acordo com o grande mestre de Yoga, Swami Sivánanda,  Brahmacharya é a liberdade absoluta dos pensamentos e desejos sexuais. É o voto de celibato. É o controle de todos os sentidos em pensamentos, palavras e ações.

Os textos antigos dizem que quem consegue controlar a sexualidade se torna uma divindade, não mais um simples humano.

É claro que, mesmo entre os adeptos mais fervorosos do Yoga, existe uma certa resistência em abandonar as práticas sexuais, e se o seu objetivo é o de levar uma vida ética, não o de se iluminar, basta que você leve uma vida sexual casta ou pura, sem promiscuidade, para que você se sinta mais feliz.

É muito comum, nos dias de hoje, a banalização da sexualidade. É um assunto que está em todos os meios de comunicação, seja direcionado ao público masculino ou feminino, as pessoas passaram a medir suas vidas sexuais por estatísticas, não por satisfação própria. Conseguimos transformar o instinto mais básico de sobrevivência e preservação da espécie em uma competição.

Já é uma grande conquista podermos sentir prazer no sexo, que não precisemos apenas copular para procriar, então, na constante busca do ser humano, nos ideais que criamos em torno desse mito, podemos transformar a nossa sexualidade em algo divino, algo mais semelhante ao que a sexualidade está relacionada. Vamos utilizar a sexualidade como uma forma de celebrar a união com o outro, alguém que nos complete (mesmo que temporariamente), vamos eliminar a promiscuidade, a contagem de cabeças, de orgasmos, de vezes por semana.

Dedique-se a transformar a sua sexualidade em algo saudável para os seus padrões de satisfação. Encontre alguém com quem dividir esse milagre, seja ele voltado a gerar vida ou não, vivencie sua sexualidade sem culpas e sem medos, mas de forma a não se ferir e não ferir o outro; não use o sexo como arma, mas como união.

Sua energia sexual pode ser utilizada para milhares de objetivos, não apenas para o ato sexual. Basta lembrar de quando estamos apaixonados, nos sentimos repletos de energia, de vontade, cheios de criatividade e benevolência.

Apaixone-se pela sua vida, e utilize sua energia de forma inteligente…E ética.