Por Fernando Perri

Estamos em uma época onde todos querem resultados imediatos não é?
Cirurgias que prometem solucionar como um passe de mágicas problemas que levamos anos para produzir em nossos corpos. Empresas que nos prometem um atendimento rápido, seguro e individualizado. Carros mais possantes e velozes que nos levam em segundos até onde queremos ir. O mais incrível é que algumas pessoas pagam o preço, e acreditam nesses “milagres”. A natureza não da saltos dizem os sábios antigos.

Vivemos em um mundo onde reconhecemos tudo a nossa volta através de estímulos que chegam até nós por meio dos nossos cinco sentidos. Precisamos entender que esses cinco sentidos são extremamente limitados e que as coisas não são exatamente como achamos que são. A isso se da o nome de Maya, ilusão.

Libertação (Moksha) é o objetivo primordial do yoga, libertação de maya, das nossas próprias limitações e aflições, libertação do sofrimento, da dor, do egoísmo e da ignorância. Liberdade para sermos nós mesmos. Através das práticas de yoga melhoramos nossa atenção, nossa percepção de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, melhoramos nossa saúde e equalizamos nossa energia e nossa mente. Evolução.

A tradição do yoga nos diz que a evolução é um caminho similar a uma escada, devemos subir degrau por degrau, vivenciar, aprender, e passar por cada uma das etapas, pois ao final da jornada o destino é apenas um dos pontos importantes alcançados. Realizamos, porém a jornada da evolução e do conhecimento, onde a cada passo nos tornamos mais autênticos, nos conhecemos mais, e tomamos mais consciência do nosso ser. Nosso mergulho místico para encontrarmos a nós mesmos.

Mas como saber se estou evoluindo?

O yoga é muito mais do que resultados físicos, saúde, flexibilidade, força etc. Por hora vamos analisar a questão dos resultados.
Não quero aqui listar os benefícios do yoga, outros personagens importantes da história do yoga no Brasil já fizeram isso. (veremos referencias de leitura mais adiante). A intenção aqui é apenas entender porque alguns de nós não obtem os resultados esperados ou não os percebe uma vez que muitos deles são sutis e requerem uma visão mais atenta e profunda de nós mesmos.

1- Você já pratica faz quanto tempo?

Tenho observado que alguns alunos se consideram avançados depois de alguns meses de prática. Se o instrutor diz: “Os mais antigos podem fazer esta outra variação”. Essa pessoa é a primeira a tentar a versão mais avançada mesmo tendo ainda muito o que desenvolver em outras mais simples. Se o instrutor lhe diz para realizar a versão mais simples ela às vezes se chateia e diz que é capaz de realizar a mais avançada. O yoga não é uma prática que visa um corpo mais “sarado” para o verão, ou para fazer antes de uma prova importante. O Yoga é uma filosofia de vida, para ser praticada por toda sua vida. Os efeitos virão se você praticar por um tempo prolongado, apesar que alguns podem ser sentidos até mesmo em apenas uma prática.
Não existe um tempo bom ou ruim. Um ano é melhor do que seis meses, dois anos são melhores do que um ano, mas o que importa são as mudanças internas, o auto conhecimento e o quanto evoluímos em relação a nós mesmos desde que começamos a praticar.
Espera-se que alguém que se considere avançado no yoga tenha alguns anos de prática, conheça um pouco da tradição, um pouco de nomenclatura do yoga, as principais técnicas básicas, bem como uma rotina diária de pratica pessoal.

2-Você pratica com que freqüência?

Alguns alunos dizem que praticam já faz três anos, mas vão a prática uma vez por semana, faltam uma vez por mês, não realizam suas práticas diárias em casa, tiram férias do yoga em julho e no final do ano desaparecem e retornam depois do carnaval. Bem me desculpem, mas Isso não é exatamente o que eu chamo de praticar yoga há três anos. Digamos que está pessoa faz aula de yoga há três anos.
A freqüência é provavelmente um dos fatores mais importantes para o sucesso de qualquer atividade na qual estamos envolvidos. Ninguém se torna um pianista praticando apenas uma hora por semana. Uma vez conversando com um dos músicos que acompanha o Krishna Das ao Brasil, ele me disse que hoje em dia ele pratica Tabla (instrumento de percussão indiano) apenas quarto horas por dia, mas quando era estudante praticava cerca de oito horas diárias. Os artistas do Cirque du Soleil praticam de seis a oito horas por dia, seis dias por semana (mesmo em épocas de apresentação). Ok, não precisamos praticar quatro horas por dia de yoga, afinal temos nossas vidas, filhos, namorados (as) etc. Uma prática de quinze minutos diariamente (se você for iniciante), já é suficiente para fazer uma grande diferença. Na sua escola, junto com o instrutor e com os outros alunos a recomendação mínima é de duas vezes por semana, se você puder praticar mais vezes, melhor ainda.

3- Você ter certeza que não mudou nem um pouquinho? Nada aconteceu? Nem física, mental ou emocionalmente?

Às vezes nossas mudanças acontecem antes mesmo da nossa percepção de nos mesmos aumentar. Será que você nunca perdeu um ou dois quilos sem se dar conta, até que um amigo que não te vê há algumas semanas se aproxima e te pergunta: – Você emagreceu? Pois bem, muitas vezes nossas pequenas mudanças são notadas pelas pessoas próximas de nós.
Se olhe no espelho, observe o funcionamento do seu organismo (suor, fezes, urina, pele, sono, fome, sede, postura, sonhos, etc.) e se isso não for suficiente observe a sua volta, e preste atenção aos comentários, às perguntas que as pessoas te fazem, como as pessoas com quem você convive estão interagindo com você etc. Se mesmo assim você ainda não percebeu nada, não se preocupe, são cinco mil anos de história e de testes sobre os efeitos do yoga, eles vão chegar, basta checar se mais algumas coisas estão ok?

4- Você está se dedicando a sua prática?

Você já deve ter percebido que o tempo que você pratica, a freqüência com que pratica são importantes, mas será que você está se dedicando a sua prática? Enquanto está com sua turma praticando você está realmente ali, de corpo e alma? Ou sua mente está em outro lugar, no trabalho ainda por fazer, no horário dos filhos saírem da escola, nas comprar do supermercado que vai ter que realizar quando sair da sua prática etc.
Yoga é união do seu corpo, mente e energia. Praticar yoga é estar atento ao nosso corpo, sensações e pensamentos que ocorrem durante a prática, é criar um espaço no seu dia para que yoga possa acontecer dentro de você. Um espaço seu, onde você se dedica ao seu corpo, sua saúde, sua mente, emoções e sua evolução espiritual.

5- Você está atento as instruções do seu instrutor?

Pequenos detalhes fazem muita diferença. A consciência focada no momento, naquilo que você está realizando naquele instante, respiração, posição do corpo, são apenas algumas coisas que devemos estar atentos durante a prática. Alguns alunos acreditam que pequenos detalhes podem ser deixados de lado. Muitas vezes o instrutor faz uma locução simples como: “Eleve sua perna direita”. Sempre tem alguém que eleva a esquerda, em meio a todos e não percebe, o instrutor frequentemente reforça a instrução, dizendo: – “A perna direita”. E mesmo assim o aluno continua lá, olhando para o instrutor, e elevando a perna esquerda. A tal ponto que o instrutor se aproxima e corrige o aluno. Pois bem, isso é um exemplo grosseiro, mas imagine só quando um exercício é interno, como bandhas (contrações), respiratórios, mentalizações, mantras, meditação etc. Esses exercícios internos são difíceis de serem observados e, portanto difíceis de serem corrigidos pelo instrutor.
A atenção em pequenas coisas, detalhes externos, por exemplo, nos leva a uma consciência mais profunda do nosso próprio corpo, e com isso, os exercícios mais sutis podem ser feitos com maior segurança e podem gerar melhores resultados.
Siga as instruções do seu instrutor, existe uma didática na execução e encadeamento de técnicas, elas não são realizadas de forma aleatória. As práticas visam uma evolução constante do praticante, desenvolvendo o auto conhecimento e todos os outros pontos importantes para sua jornada em direção a estágios mais avançados da prática.

6- Você tem sua prática pessoal diária?

Sim? Muito bem. Mas lembre-se ela complementa a sua prática coletiva, mas nada substitui as instruções, correções, dicas e orientação do seu instrutor de yoga.
Não? Bem, então comece já? Peça ajuda a seu instrutor, crie um pequeno roteiro, algo simples com duração de apenas alguns minutos diários, mas algo que você realmente se dedicará de corpo e alma. Aumente gradualmente o tempo e o nível de adiantamento das técnicas que realiza em casa, converse periodicamente com seu instrutor, ele já passou por isso e pode te dar dicas e orientações preciosas. Depois de alguns meses você deve sentir a diferença.

7- Mas o que é preciso para evoluir na prática afinal?

Em um primeiro momento é preciso:
– Criar uma infra estrutura, física, mental e emocional
– Aumentar a capacidade pulmonar, e a consciência da respiração, aumentando também a oxigenação de órgãos e tecidos; fortalecer os músculos, especialmente os das costas que dão sustentação para a coluna; melhorar o alongamento e flexibilidade do corpo, especialmente das pernas para um maior conforto em posições sentadas.
– Aumentar a consciência corporal e a forma como percebemos nosso corpo.
– Criar resistência emocional e concentração para podermos no futuro treinar o desapego tão necessário para a meditação.
Esta fase não tem tempo certo para ocorrer, visto que muitos dos detalhes já mencionados fazem uma grande diferença, e cada praticante tem uma resposta diferente a prática do yoga. Mas em linhas gerais podemos dizer que se você seguir as instruções acima, esta fase deveria durar de dois a quatro anos de prática.

Em um segundo momento:
– O praticante precisa tornar sua prática um pouco mais profunda, trazendo o aprendizado adquirido nas práticas para a sua vida diária.
– Aplicar yamas e niyamasem nosso dia a dia. Yamas e niyamas são os dois primeiros passos (angas) do yoga de patañjali, e segundo ele o alicerce que ajuda a alavancar nossa evolução pessoal.
– Purificar o corpo através das kriyas;
– Desobstruir as nadís através de uma alimentação adequada (se abstendo de drogas, carnes, e álcool) e dos exercícios respiratórios;
– Pacificar a mente e as emoções através da prática diária da meditação.

Após esta fase o praticante realmente está pronto para decidir o quanto quer agora se aprofundar no yoga. Se ele realmente quer abraçar essa filosofia de vida e ai passar a estudar as obras clássicas e importantes da tradição do yoga. É aqui, na minha opinião, que devemos decidir por exemplo se queremos ser instrutores, depois de haver vivenciado por algum tempo a prática, a tradição e as transformações que acontecem devidos a nossa dedicação do yoga.

Em estágios ainda mais adiantados o praticante se dedica agora ao balanceamento das nadis, ativação dos chakras, meditação e a observância dos yamas e niyamas em todos os momentos da sua vida. Mas isso é assunto para um outro texto.

Em linhas gerais pudemos colocar aqui algumas coisas para você analisar e direcionar sua conduta perante o yoga para tirar o melhor proveito desta maravilhosa filosofia de vida, muito poderia ainda ser dito.

Resumindo, leia, estude, pratique e dedique-se.
Os resultados virão. Eu estou certo disto.
Espero que em breve você também esteja.