Estética nos Ásanas
Marcos Taccolini

Retirado do livro 108 família de ásanas

O ásana corretamente executado, além de ser uma posição corporal estável e confortável, traz naturalmente também a estética. Para aprofundar o conceito da estética aplicado ao ásana, vou começar citando os conceitos de estética, da monografia de formatura de minha aluna e instrutora Flávia Kawazoe, que atualmente está atuando em fotografia.

A definição literal de estética é, segundo o dicionário Larousse Cultural: caráter estético de uma forma; harmonia, beleza, teoria filosófica que se propõe como objeto para determinar o que provoca, no homem, o sentimento de que alguma coisa é bela. Vem do grego aisthetike, de aisthetikos que significa relativo ao sentimento.

Desta definição tiramos primeiramente que a estética é relativa ao sentimento, é sensorial, teoria do saber sensível, ou seja, não podemos falar de estética simplesmente pela razão. A primeira observação que fazemos de alguma coisa que olhamos não é de maneira racional, e sim intuicional.

A estética é uma maneira do homem entender e organizar o mundo em que vive. Para a mente humana é fundamental alguma ordem. Estamos sempre trabalhando dentro de um espaço que é organizado por nós, inclusive nossas mentes. A estética é uma das maneiras que o homem encontrou para organizar este mundo que ele vive.

Algo estético é aquilo que tem a capacidade de produzir no ser humano certa sensação que podemos traduzir como beleza, força, harmonia e ordem e que faz com que aquilo que está sendo observado se destaque do resto das coisas que estão sendo observadas.

Assim, se o ásana é estético deve, portanto, produzir para o próprio praticante essa sensação de beleza, força, harmonia e ordem; trazendo à atenção do praticante para sua execução. Assim o conforto, a permanência com a respiração profunda e consciente e a localização da consciência decorrem naturalmente do alcance da estética na posição.

Princípios gerais para a estética do ásana

Pelo conceito apresentado, a estética envolve parâmetros além do mental e cada ásana têm sua característica própria, logo não é possível determinar um conjunto simplificado de regras objetivas. Ainda assim, há alguns princípios que podem ser aplicados para a maioria dos ásanas. Fica registrado que são princípios gerais e, dessa forma, passíveis de exceções na sua aplicação:

 

  • A expressão facial reflete a sensação corporal, assim, reflexologicamente, sua expressão facial influencia todo o organismo. A estética da posição inicia-se pela sensação interna de conforto, força, beleza e sua conseqüente manifestação na expressão facial.
  • A localização principal da consciência é na região mais solicitada pelo ásana, mas mantenha a estética consciente em todo o corpo, com atenção especial para a solicitação sobre a coluna vertebral e também sobre as extremidades do corpo.
  • Quando o ásana permitir, acople mudrás (gestos com as mãos). Observe como algumas mudrás têm impacto na atuação e permanência dos ásanas.
  • Quando a planta do pé não estiver apoiada no solo, procure manter o calcanhar estendido. Os dedos dos pés podem ficar descontraídos, que é a situação mais normal para a prática de Yoga, ou estendidos, acompanhando a linha do dorso do pé, que é bastante utilizada em demonstrações.
  • A variação com o calcanhar fletido (ou puxando os dedos dos pés com os mãos) desenvolve mais força e alongamento e pode ser utilizada para treinamento, mas é menos utilizada para demonstração. Ao treinar esta variação, inicie sempre com a posição com o calcanhar estendido para criar o reflexo automático durante uma apresentação de ásanas para fazer o que é mais estético do ponto de vista ocidental.
  • Normalmente os extremos têm melhor impacto visual, ou seja, ao estender ou flexionar uma perna ou braço, faça-o completamente.
  • Nossa sensação de estética aprecia a ordem e o padrão. Sendo assim, preferencialmente, mantenha ângulos definidos entre os pés (juntos, afastados paralelos ou em um ângulo de noventa graus) e posições dos braços e pernas também seguindo um alinhamento ou angulação consciente.
  • Mesmo se não utiliza repetição de ásanas, na sua prática regular, sempre que a posição permitir, inicie a execução com uma variação mais simples do ásana (preferencialmente a variação sukha, em descontração), executando-a, como passagem para as variações mais avançadas.
  • A total segurança na execução do ásana é fundamental para sua estética, assim, mesmo tendo conquistado as variações mais avançadas, continue também treinando as variações mais simples. Estas, normalmente, têm mais exigência muscular do que a posição final, conseqüentemente sua prática regular é a base para a execução com segurança das variações mais avançadas.
  • Cada ásana tem uma linha de força própria que envolve o posicionamento (em alguns casos, o alinhamento) de tronco, cabeça, pernas e braços; procure descobrir as linhas de força do ásana e utilzar a tração de corpo ou o repouso muscular para reforçar essas linhas.